quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Com os tópicos de conversação sobre Brokeback Mountain a oscilarem entre o gayismo das pradarias e as potencialidades oscarizaveis de todos envolvidos, está-se a descurar o que deve ser o tema mais premente: qual o futuro dos fatos de cowboy nos carnavais vindouros?
Desde logo tremo de pensar que a indústria nacional dos texteis, que já se encontra em dificuldades, não seja mais uma vez capaz de se adaptar, e se deixe ultrapassar pelos tempos. Estará neste momento o gestor, enquanto guia o seu Ferrari, consciente de que há-de pegar em todos os fatos e subir-lhes uns números? Está ele a redireccionar a sua publicidade dos meios infantis para as revistas com jovens louros desnudados na capa? Estará ele a trocar os negros e azuis escuros por berrantes rosas e verdes BES? Ou estarei mais eu preprado para o ver fechar mais uma fábrica enquanto culpa os que se seguem aos chineses e ao outsourcing do leste?
Atormenta-me os despedimentos, o ficarmos reféns da ausência de explosão da retoma, mas também o pensar que as famílias menos abastadas não poderão abdicar do fato que o mano mais velho deixa do carnaval de anos anteriores, levando a que seja o petiz atormentado no pátio pela maltosa homófobica que se passeia pelas classes mais adiantadas. E daqui clamo intervenção do Governo no sentido de prover meios para que possam estas famílias gozar o carnaval sem que tal implique futuros danos nos seus. Passe tal; pela rápida troca de fatos; por uma formação cívica intensiva; ou mesmo pelo pagamento de viagens ao carnaval do Rio onde o mais desaconcelhável é mesmo o recurso a qualquer fato que seja.
Vestir fatiota de cowboy, com as pistolas à cintura, e de bigode traçado a lápis dos olhos da mãe, é zona de risco. A sua emigração da festa da escola para as noites loucas do universo gay está em marcha.
Não se deixem levar pelo tom aparentemente leve do que vos digo pois, a partir deste momento, e mesmo com 80 anos duma herança construida pela dureza de John Wayne ou a violência de Peckinpah, tudo farão os que cuidam da identidade gay para fazer deste género tão nosso, o género deles. Socorror-se-ão do ar frágil de Montgmorey Clift em Red River e da renúncia de Alan Ladd em Shane. Cairão no mau gosto de evocar os duelos como rituais gay materializados na extensão fálica da arma que é erguida. E não se coibirão de mencionar a ausência da mulher em Leone ou Hawks.
Esqueçam as caricaturas, esta é a nossa guerra.

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